Vacina russa utiliza dois tipos de vírus na imunização, aumentando a eficiência
O primeiro estudo sobre a vacina russa contra a covid-19, chamada de Sputnik V, foi publicado hoje (4) pela revista científica Lancet. A pesquisa, feita com dois grupos de 38 pessoas, aponta que o imunizante não causa efeitos adversos graves e é capaz de induzir a resposta imune (produção de anticorpos) no organismo dos voluntários.
“Isso faz dela uma vacina promissora, mas por enquanto, não podemos liberar para o mercado. Faltam dados condizentes com as fases 2 e 3″, explica Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do IQC (Instituto Questão de Ciência)”.
Em coletiva de imprensa que aconteceu hoje de forma virtual para jornalistas do mundo todo, os próprios pesquisadores disseram que a pesquisa tem limitações e que são necessários mais testes para a comprovação de sua eficácia.
Estratégia usada é considerada interessante A Sputnik V usa dois vetores de adenovírus —tipo 26 (rAd26-S) e tipo 5 (rAd5-S)—, que funcionam como um “veículo de lançamento” do coronavírus no organismo humano. “Essa é a principal diferença em comparação com algumas outras candidatas, como a vacina de Oxford, que usa um adenovírus.
A estratégia combinada, além de demonstrar segurança inicial, indica níveis positivos de imunização. “Foi apresentada boa resposta nos níveis de linfócitos T, e a produção de anticorpos induzida pela vacina foi sutilmente maior do que aquela geralmente apresentado em pessoas que se recuperaram da doença”, aponta a especialista.
Como o estudo foi feito
Foram feitos dois estudos com 38 voluntários cada (76 no total) e, segundo os pesquisadores, não foram verificados efeitos colaterais sérios até 42 dias depois da imunização.
Em cada um dos estudos, nove pacientes foram testados com o tipo 26 do adenovírus, outros nove com o tipo 5 e os 20 restantes, com os dois, em estratégia combinada.
Como são usadas formas enfraquecidas do adenovírus, ele não é capaz de se replicar no corpo humano e, consequentemente, não causa doenças. O adenovírus geralmente causa o resfriado comum.
Os participantes foram testados entre 18 de junho e 23 de agosto e todos desenvolveram anticorpos para o coronavírus.
Amostragem ainda é pequena
Embora tenha bons resultados preliminares apresentados, a pesquisa foi feita com poucas pessoas, a maioria homens e jovens.
“É uma amostra bem específica, compatível com uma fase 1, que só testa segurança e marcadores de imunidade —nada pode ser dito ainda sobre a eficácia dessa vacina, que só será testada, de fato, na fase 3. Além disso, seria bom ver resultados contundentes com a fase 2, incluindo mais pessoas e maior diversidade de grupos etários, mais mulheres, e pessoas com comorbidades”, afirma Pasternak.
Uol