Mundo: Seis vacinas estão em fase final de testes com humanos; saiba tudo sobre a imunização
O novo coronavírus demonstra — desde sua descoberta em Wuhan, na China, em dezembro de 2019 — ter alta capacidade de contágio e taxa de letalidade por volta de 3,5%. Até o momento, o Sars-CoV-2 já infectou mais de 20 milhões de pessoas pelo mundo e tirou a vida de mais de 735 mil. Por esses motivos, o planeta entrou em uma corrida para encontrar não só remédios eficazes no tratamento da Covid-19, mas sobretudo uma vacina capaz de prevenir a infecção pela doença.
Nesta terça-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que o país registrou oficialmente uma vacina contra o Sars-CoV-2. É o primeiro país do mundo a homologar um imunizante contra a Covid-19. A eficácia da fórmula desenvolvida pelo Instituto Nikolai Gamaleia em parceria com o Ministério da Defesa russo, no entanto, foi recebida com ceticismo pela comunidade científica internacional.
O calendário acelerado da Rússia pulou diversas etapas de ensaios clínicos essenciais para garantir a segurança e a eficácia da vacina, na avaliação de cientistas. O governo russo, no entanto, sustenta que a fórmula não traz riscos e que, embora os testes não tenham sido concluídos, já é possível garantir sua segurança. A fórmula nunca esteve entre as líderes da corrida global na avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a entidade, há mais de 120 vacinas propostas por cientistas do mundo todo, das quais seis estão em fase 3, a última fase de testes em humanos antes da aprovação. São elas: Sinovac (China), Instituto Biológico de Wuhan/Sinopharm (China), Instituto Biológico de Pequim/Sinopharm (China), Oxford/AstraZeneca (Reino Unido), Moderna/NIAID (EUA) e BioNTech/Pfizer.
Vacinas são testadas no Brasil
Há três candidatas à vacina contra a Covid-19 sendo testadas no Brasil. Cientistas se preparam para pedir autorização para a realização de um quarto teste.
A primeira é a desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, a que está “mais avançada” segundo a OMS. São cinco mil voluntários brasileiros residentes nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Em São Paulo, os estudos dessa vacina são liderados pela Unifesp. A infraestrutura médica e de equipamentos são financiados pela Fundação Lemann. No Rio e Salvador, os testes ficam a cargo do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, da Rede D’Or, que vai cobrir os custos da primeira fase da pesquisa.
O presidente Jair Bolsonaro editou uma Medida Provisória (MP) no dia 6 de agosto que libera cerca de R$ 2 bilhões em crédito extraordinário para a produção e disponibilização de possível vacina contra a Covid-19, que se encontra em fase de pesquisa. A MP foi assinada por Bolsonaro em evento no Palácio do Planalto.
O Ministério da Saúde fechou um acordo com a AstraZeneca de transferência de tecnologia para a fabricação de vacinas no Instituto Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A previsão é que insumos para a produção de 15 milhões de doses (o primeiro lote) cheguem ao Brasil até dezembro. A expectativa é que o primeiro lote seja liberado em janeiro de 2021.
A Sinovac (China) também está sendo testada no Brasil, em parceria com o Instituto Butantan. Foram trazidas 20 mil doses ao país, que serão aplicadas em até 9 mil voluntários em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que terá inicialmente 30 milhões de doses da vacina contra a covid-19 desenvolvida em parceria com a empresa chinesa Sinovac. Ele disse acreditar que a vacina estará disponível em janeiro de 2021.
No dia 5 de agosto começaram os testes no Brasil da vacina desenvolvida farmacêutica americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech. A pesquisa vai mobilizar um total de mil voluntários nas cidades de São Paulo e Salvador.
O Instituto de Tecnologia do Paraná assinou no fim de julho um acordo com a farmacêutica chinesa Sinopharm para o preparo de uma potencial vacina para a Covid-19 no Brasil. Os responsáveis pelos ensaios clínicos pretendem enviar, até 15 de agosto, um pedido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para realizar os estudos de imunização.
Rússia registra vacina
O anúncio surge depois de um aviso da Organização Mundial de Saúde (OMS), feito na semana passada, pedindo respeito às diretrizes estabelecidas para que uma vacina fosse criada com segurança. O temor da OMS, de cientistas e autoridades internacionais é de que, na corrida política pelo pioneirismo da criação do imunizante, etapas que garantam eficácia e segurança sejam negligenciadas.
— Esta manhã, pela primeira vez no mundo, uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada — disse Putin durante uma videoconferência com integrantes do governo exibida pela televisão. — Sei que é bastante eficaz, que proporciona imunidade duradoura — acrescentou.
Segundo Kirill Dmitriev, presidente do fundo soberano que financiou as pesquisas, mais de 1 bilhão de doses ja foram encomendadas por 20 países estrangeiros, sem detalhá-los. O início da produção deve ocorrer em setembro, ainda de acordo com Dmitriev.
A vacina será distribuída em 1º de janeiro de 2021, informou o registro nacional de medicamentos do ministério da Saúde, consultado pelas agências de notícias russas. Murashko, no entanto, já havia anunciado uma campanha de vacinação em massa para outubro.
A fórmula desenvolvida pelo instituto Gamaleia usa duas cepas de adenovírus, usualmente responsáveis por gripes, e recebem o RNA do novo coronavírus para gerar uma resposta imune. A técnica é parecida, por exemplo, com o modelo da vacina candidata da Universidade de Oxford (Reino Unido) feita em parceria com a farmacêutica AstraZeneca.
residente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta terça-feira que o país registrou a primeira vacina do mundo contra o novo coronavírus, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya de Moscou, após menos de dois meses de testes em humanos. Ela foi batizada de “Sputnik V”, em referência ao satélite soviético lançado em 1957 na órbita da Terra. O ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, disse que o teste imunológico mostrou eficácia e segurança.
A OMS nunca listou as vacinas candidatas da Rússia como lideranças da disputa por um imunizante entre as mais de 160 desenvovlidas ao redor do mundo. O porta-voz da entidade Tariq Jasarevic afirmou a jornanlistas nesta terça-feira que o braço das Nações Unidas para a Saude está discutindo os procedimentos com autoridades russas, mas ressaltou que, antes de receber qualquer selo de aprovação, a vacina exige uma revisão “rigorosa” dos dados sobre segurança e eficácia obtidos por meio de ensaios clínicos.
Os governos dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido já acusaram anteriormente a Rússia de promover ataques hackers com o objetivo de roubar informações sobre o desenvolvimento de vacinas. Autoridades russas negam as acusações e afirmam que o modelo do imunizante é baseado em um projeto desenvolvido com o ebola há anos e defendem o legado do país e da antiga União Soviética nas pesquisas ligadas à imunologia.
OMS defende universalização
A OMS diz estar “está promovendo um diálogo aberto e regular entre pesquisadores e desenvolvedores de vacinas para agilizar o intercâmbio de resultados científicos, debater preocupações e propor métodos rápidos e robustos para avaliação de vacinas”. A organização defende o respeito e cumprimento dos protocolos e regulamentos em vigor no desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19.
A Organização Mundial da Saúde, a Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias e a Gavi, a Aliança pela Vacina, estão trabalhando juntas para obter acesso igualitário e amplo entre os países. Eles delinearam um plano de US$ 18 bilhões em junho para lançar vacinas e garantir dois bilhões de doses até o final de 2021.
A Organização Mundial da Saúde, a Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias e a Gavi, a Aliança pela Vacina, estão trabalhando juntas para obter acesso igualitário e amplo entre os países. Eles delinearam um plano de US$ 18 bilhões em junho para lançar vacinas e garantir dois bilhões de doses até o final de 2021.
O Globo