Justiça ordena e União tem 48h para dar R$ 8 milhões para bebê ter remédio mais caro do mundo
A Justiça Federal em Brasília deu prazo de 48 horas para que a União desembolse R$ 8,3 milhões e pague a diferença necessária para que a família de um paciente importe o remédio Zolgensma, considerado o mais caro do mundo. A decisão é em favor de Arthur, um bebê de um ano e dez meses com Ame (atrofia muscular espinhal), uma doença rara. A importação do Zolgensma, fabricado nos Estados Unidos, custa R$ 11,7 milhões. A decisão da 3ª Vara Cível é que a União complete a diferença do valor arrecadado até agora pela família do garoto: R$ 3,3 milhões por meio de doações.
O despacho de ontem (15) pede que um oficial de Justiça intime “urgente” a União “para realizar o depósito de R$ 8.394.748,46 no prazo, impreterível, de 48 horas”. Mãe do Arthur, a dona de casa Alessandra Ferreira Santos, 28, está correndo contra o tempo. Ela tinha até o dia 8 de novembro para conseguir juntar todo o dinheiro e aplicar o remédio no filho porque o Zolgensma só pode ser usado em crianças de até os dois anos de idade. “Ainda não acredito que conseguimos”, disse Alessandra. “Às vezes acho que a ficha caiu, mas às vezes parece um sonho.”
A decisão de ontem só foi possível porque no mês passado a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou o registro do Zolgensma, que desde então pode ser importado. O descumprimento da determinação pode resultar em multa diária de R$ 80 mil, além de possíveis “sanções processuais, administrativas, penal e cível”. O governo recorreu, mas o recurso não foi apreciado até agora. Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu a reportagem. A resposta será incluída neste texto quando enviada.
Como o remédio funciona
Estima-se que 8.000 brasileiros tenham a doença neurodegenerativa. “A Ame é causada pela ausência de um gene que produz o SMN1, a proteína responsável por proteger os neurônios motores”, explica a especialista no assunto Adriana Banzato, médica do hospital pediátrico Pequeno Príncipe, em Curitiba. “Sem ela, esses neurônios morrem e a criança vai perdendo a força, atrofiando músculos, inclusive os da respiração e deglutição”, conta.
O remédio funciona assim: o DNA que falta ao organismo é introduzido em uma cápsula de um vírus inócuo e injetado na veia do braço junto com o soro. “Uma dose única é suficiente. O paciente está geneticamente curado, e começa a produzir a proteína que antes faltava”, diz a médica. Ela explica que, nos Estados Unidos, o composto só pode ser aplicado até os 2 anos de vida ou “pode haver reação no organismo em crianças maiores”.
UOL