Fiocruz alerta para alta no número de casos de Covid-19 no RJ na última semana
Enquanto algumas cidades do Rio seguem seus plano de flexibilização, como a capital que voltou a permitir banhos de mar desde este sábado, os casos de Covid-19 inverteram a tendência e voltaram a subir, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Um boletim produzido pela entidade analisa as duas últimas semanas epidemiológicas, e mostra que o estado tem registrado um aumento diário de casos de 8,4% em média desde 12 de julho. É a maior taxa em todo o Brasil, e pode indicar a temida “segunda onda”.
— O que se espera de uma epidemia é chegar a um pico e, depois, passar por uma desaceleração. Mas a nossa preocupação é que estamos vendo um crescimento diário tanto dos casos diagnosticados de Covid-19, como de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — alerta Daniel Villela, coordenador do programa de computação científica da Fiocruz.
Para o pesquisador, a curva ascendente tem várias explicações: a interiorização da doença, que tem avançado para cidades menores e que antes não registravam o novo coronavírus, além da estação do ano, que costuma ter uma incidência maior de doenças respiratórias. Mas ele também destaca o papel da flexibilização das medidas de distanciamento social.
— Temos um grande desafio no país, pois ainda fazemos muito poucos testes. Começamos a reabertura sem saber realmente o número de pessoas que já desenvolveram imunidade. Esse elo está faltando — critica.
O infectologista Alberto Chebabo, diretor da Divisão Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, prefere não falar em “segunda onda”. Para ele, o aumento dos casos é uma consequência direta da reabertura das atividades, de forma “desordenada” e “sem planejamento”:
— As informações que vêm do poder público são desconexas: o ambulante pode trabalhar na praia, mas as pessoas não podem ficar na areia. Ele vai vender para quem? Dá a impressão de que a vida já voltou ao normal. Não foi assim em lugar nenhum no mundo, e não vai ser assim aqui. Não temos climas para reverter a flexibilização, mas precisamos pelo menos diminuir a velocidade — critica
O médico também clama por uma postura mais proativa do governo na comunicação:
— Cabe ao setor público monitorar os números e alertar diretamente a população sobre o que está acontecendo, conscientizar que os números estão piorando e que é preciso manter as medidas de prevenção, como sair de casa apenas quando necessário, usar a máscara e lavar as mãos.
Para Chebabo, o mais importante é chegar aos jovens, que têm lotado bares, restaurantes e praias:
— Eles acham que estão seguros, pois a doença tende a ser menos grave nessa faixa etária. Mas eles são carreadores para o resto da população. Precisamos mobilizar essas pessoas para se conscientizar que essas atividades não são prejudiciais só para elas, mas para a sociedade. As pessoas agem como se a doença tivesse desaparecido, e a consequência é essa.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) diz que o Rio de Janeiro foi “pioneiro” na adoção das primeiras medidas de isolamento social, e, desde março, criou 1.590 leitos na rede estadual para atendimento de pacientes infectados com coronavírus, tanto em hospitais referenciados quanto em áreas isoladas em demais unidades na capital, Região Metropolitana e interior do estado.
“A secretaria destaca ainda que acompanha diariamente os números do estado e que, com a queda sustentada de notificações e a baixa taxa de ocupação de leitos, o Estado do Rio é classificado hoje como bandeira amarela, de risco baixo para a doença”, diz a nota, argumentando que houve instabilidade nos sistemas oficiais durante o mês de julho, acarretando no represamento de dados.
A pasta também discorda da expressão “segunda onda”: “a previsão é que haja, no interior do estado, uma extensão da primeira onda, o que já aconteceu nas regiões metropolitanas I e II, onde está concentrada 80% da população fluminense. Na interiorização do vírus, ao atingir uma população menor, a capacidade de resposta da rede pública de saúde é maior”.
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