Estudo britânico aponta que dexametasona reduz mortalidade do coronavírus
A dexametasona, um corticoide comumente receitado para alergias graves, artrite reumatoide e outros problemas, pode ser o primeiro remédio comprovadamente eficaz para reduzir a mortalidade do coronavírus (Sars-CoV-2). Segundo um consórcio de pesquisadores britânicos — chefiados pela Universidade de Oxford — o medicamento aumentou a chance de sobrevivência entre pacientes com casos graves da Covid-19, que necessitam de oxigenação artificial.
“Dia histórico no tratamento da Covid-19”, anunciou, por meio de comunicado, o infectologista Clovis Arns, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A pesquisa que chegou a essa conclusão
Antes de tudo, cabe destacar que a investigação ainda não foi publicada, o que dificulta a interpretação de dados por outros experts. Seus autores divulgaram resultados preliminares na página oficial do estudo Recovery, que vem testando a eficácia e a segurança de diferentes medicações frente ao coronavírus.
A pesquisa é randomizada e com grupo de controle — ou seja, distribui os voluntários aleatoriamente entre uma turma que recebe a medicação e outra que segue com o tratamento usual. Esse rigor traz mais confiança nos dados encontrados.
Pois bem: 2 104 pacientes tomaram o corticoide por dez dias, enquanto outros 4 321 não o receberam. Ambas as turmas passaram pelos cuidados usuais necessários.
A conclusão dos cientistas é a de que a dexametasona diminui em 35% o risco de morte nas pessoas que estavam recebendo ventilação mecânica por causa da Covid-19. Nos voluntários submetidos à oxigenação, mas que não chegaram a recorrer ao respirador artificial — um subgrupo um pouco menos grave —, a queda na mortalidade foi de 20%.
“Baseado nesses resultados, uma morte seria prevenida com esse tratamento a cada oito pacientes em ventilação mecânica ou uma a cada 25 entre quem só necessitava de oxigênio”, afirma a nota.
Nas pessoas com casos leves de coronavírus, não houve diferença na mortalidade. Em outras palavras, a medicação seria útil apenas para os quadros mais severos da infecção — não adianta tentar comprar na farmácia.
Além de o experimento não ter sido publicado em um periódico científico, os participantes que ficaram sem a dexametasona não receberam um placebo, o que seria ideal para tornar os dados ainda mais confiáveis.
No entanto, a SBI recebeu a notícia com otimismo. “Conclusão prática: todo paciente com Covid-19 em ventilação mecânica e os que necessitam de oxigênio fora da UTI devem receber dexametasona […] por dez dias”.
Cabe destacar que, apesar da boa notícia, a dexametasona não opera milagres, segundo o próprio comunicado dos cientistas. Ela reduziu o risco de morte em pacientes graves, mas não o zerou.
Além disso, alguns centros já utilizam a medicação. Esse trabalho, portanto, ajuda a definir o paciente que mais se beneficia e a dose adequada. Por outro lado, ele não resolve, por si só, a pandemia.
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